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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

DESPEDIDA: Waldir 59




                Com muito pesar, mas sabedor da ordem natural da vida – nascer, viver e morrer – é que hoje fui despedir-me do meu mestre e incentivador Sr. Waldir de Souza, Mestre Waldir 59 da Portela, do Samba e do Carnaval. Mestre, sim, o Mestre que me inspirou e me fez Sambista.

                É com orgulho e honra que segui os passos do meu Mestre, tendo sido Diretor de Harmonia na Portela, na Unidos da Tijuca e no G.R.A.N.E.S. Quilombo, neste último, após convite do Mestre que estava assumindo a Presidência da Escola e me escolheu dentro de um vasto universo de Diretores até já consagrados no meio, isso no ano de 1998. Logo após o seu mandato no ano de 2003, fui eleito Presidente desse enorme legado que nos fora deixado por seu maior parceiro, o também saudoso Antônio Candeia Filho, o Mestre Candeia.

                Mais um Mestre que parte e nos deixa saudade. Mestre de fato e com todas as prerrogativas para ter exercido o cargo e/ou função de Diretor de Harmonia em Escola de Samba, pois sambou, escreveu, cantou, dirigiu como líder, formou e deixou um legado, o que não acontece nos dias de hoje, quando estamos assistindo vestir a camisa onde se lê Diretor de Harmonia pessoas sem nenhum conhecimento que os possa credenciar de fato, o que muito o aborrecia e incomodava. Por várias vezes me chamava e dizia: “Não entendo mais nada. Qualquer um agora é Harmonia, mesmo sem saber o que está fazendo dentro da quadra e pior, na avenida”.

                Saudade eterna, Mestre.


Rômulo Ramos
Direção de Carnaval e Harmonia



TRIBUTO A CANDEIA
(Rômulo Ramos)

Encandeia-me
De onde estás, com a tua luz
Oh Candeia
Tua luta e tua glória
Suas metas e seus ideais
Fazem parte da nossa história original

Que o teu povo hoje clama
Pra manter acesa a chama
Que você foi quem acendeu
Oh meu mestre, me ilumine
Não deixe que eu desanime
Vem salvar o carnaval

Candeia é a luz
Candeia é a luz que ilumina
Os meus caminhos
Na estrada do samba
Onde ainda não sei
Caminhar sozinho

Sou quilombola da sua aldeia
Casa que o bamba partiu e deixou
E esse legado agoniza no tempo
Meu Deus, que horror



NO SAMBA DE BREQUE EU NÃO SOU LORDE
(Rômulo Ramos)

Eu não sou lorde, já disse a você
Não sou cacique, nem pretendo ser
Sou homem do povo, não mexa comigo
Me deixa viver
A tua proposta não me agradou
Não sou deputado e nem senador
Vê se me tira disso
Que o meu compromisso é com o eleitor

No velho Congresso e lá no Senado
O errado é o certo e o povo enganado
O voto é secreto, jetom predomina
E as velhas emendas, o mapa da mina
Não sou laranja e nem assessor
Vê se me tira dessa que nessa eu não tô
Eu quero é distância
Planalto, Brasília, tô fora, sujou


O velório do Mestre Waldir 59 aconteceu na Portelinha, criada e fundada em 1950, aquela que criou o Portelão e hoje é sede da Velha Guarda da Escola. A Portelinha fica do lado do terreno onde tudo começou ali na jaqueira...














quarta-feira, 25 de novembro de 2015

ENTREVISTA EXCLUSIVA: Adele Fátima


Nosso Blog traz para nossos leitores uma entrevista exclusiva com nossa eterna Madrinha de Bateria, Adele Fátima. Ela conversou com o Blog no último dia 07 de novembro de 2015, após sua apoteótica participação no Ensaio de Quadra daquele sábado. Confira! 






                        
BLOG: Como foi seu início, sua chegada na Mocidade Independente?

ADELE: Acho que foi em 1974 ou 1975. Eu fiz minha estreia na Mocidade na Ala do Sargentelli, o nome era Ala Oba-oba. Depois eu passei a sair com Paulo Varelli. Então teve um ano que me chamaram pra ser a “Margarida Gostosa”. Aí eu já estava apaixonada pela Mocidade.


BLOG: E qual foi o caminho para passar a desfilar a frente da bateria?

ADELE: Em 1981, o Castor me chamou e disse que minha roupa estava pronta e que naquele ano ele me faria uma surpresa: eu viria no abre-alas. Então eu falei pra ele que meu desejo era outro.  Eu falei assim: “eu acho muito legal sair no abre-alas, mas minha paixão mesmo é pela bateria”.  Então eu perguntei pra ele o que ele achava dessa ideia e ele disse que a roupa já estava pronta. Então eu insisti...  Falei que aquele era meu maior desejo e pedi pra ele fazer acontecer, realizar, que a vida era uma só e que o momento era aquele. Então ele acabou aceitando. Mas eu sabia que ainda faltava falar com o mestre André, afinal, sem o aval dele não teria nada a ver.


BLOG:  E como foi a conversa com o Mestre André?

ADELE: Então eu fui lá e conversei com o Mestre André. Na verdade, eu perguntei ao Castor se poderia falar com ele e ele deixou. Fui lá falar com o Mestre e ele aceitou. Assim em 1981 aconteceu minha estreia na frente da bateria.


BLOG: E de onde vem essa paixão pela bateria?

ADELE: A bateria sempre mexeu muito comigo. Eu saía no Bafo-da-Onça. Eu via as meninas em cima do caminhão da Casa da Banha e aquilo mexia comigo. Eu era criança e não podia sair no caminhão, então eu ficava na frente da bateria e aquilo ficou na minha mente.


BLOG: E como foi essa estreia?

ADELE: Nossa, é o seguinte... Coração a mil, uma coisa muito gotosa, ficou marcado pra minha eternidade. Jamais eu vou esquecer esse momento na minha vida. Eu, que amo carnaval de paixão, saí em várias escolas de samba, mas me identifiquei com a Mocidade. Essa Estrela Guia realmente guiou minha vida até ela e eu não consegui sair mais. Fiquei 4 anos a frente da bateria.





BLOG:  E como foi desfilar grávida?

ADELE: Foi em 1982. Eu desfilei grávida, estava com 6 meses de gestação. Nossa gente foi... (pausa) É muito grande você falar sobre isso, porque um filho é um filho. Eu, grávida de 6 meses, com um salto 18 na frente da bateria, já passando das 11 horas da manhã, aquele sol na cabeça, porque o horário era esse... Mas pra mim estava tudo bem. E tinham pessoas que gritavam das arquibancadas “você tá louca, vir sambando grávida debaixo desse sol?”. Mas a médica falou que eu podia, que estava tudo bem comigo e o bebê. E eu estava radiante mesmo de felicidade. E é assim mesmo, quando a gente está assim, nesse estágio, então tudo dá certo. Então eu “vim que vim” na bateria e foi super bom.


"Meu negócio era mostrar samba e amor pela Mocidade". 
(Adele Fátima)


BLOG: E depois que você deixou de desfilar junto a bateria, continuou participando do carnaval da Escola?

ADELE: Eu fiquei um pouco afastada, mas eu não aguentava muito tempo de saudades e voltava. Como eu faço aniversário em fevereiro, o Vicente da Ala Agito (uma das mais antigas e tradicionais da escola) me presenteava com a fantasia, eu não precisava nem comprar. Eu não me importo com essa história de posição, porque eu sempre gostei do Carnaval, eu não vim por notoriedade e muito menos por grana. Meu negócio era mostrar samba e amor pela Mocidade.


BLOG: Fale para gente um pouco sobre esse título de “Musa da apoteose”?

ADELE: Então na época os grandes médicos e cirurgiões, como o Pitanguy e o Carrato, falavam que eu era modelo. Então a partir disso o Oscar Niemeyer me colocou como musa da Apoteose na inspiração dele. 


BLOG: E como foi ser recebida no Ensaio de Quadra (Adele participou do ensaio de quadra da Mocidade no último dia 07/11/2015) pela diretoria, segmentos e comunidade?

ADELE: Eu já sou uma senhora e olha... Era muita saudade. Foi tudo de bom. Quando os componentes abriram espaço pra eu passar, o coração quase saiu pela boca... As lágrimas desciam... Não dá pra segurar né? Por que são lágrimas de amor. É uma coisa muito linda. Então quando você tem essa recepção é muito gratificante.


BLOG: E o que você acha do Carnaval atual? O que mudou daquela época pra atual?

ADELE: Nos carnavais de antigamente nós brincávamos. Hoje virou seriedade. Não está feio, porque o Carnaval nunca vai estar feio. Mas tem o lado bom, agora está mais organizado. Temos que tirar o chapéu para a Liga, mas em compensação as Escolas de Samba se enquadraram de uma forma que uma parece a outra. É feio? Não, é lindo. Mas não é aquela brincadeira mais. Aquele carnaval que você ia para brincar, para se doar pra plateia.      


BLOG: E o fato de ser Madrinha de bateria lhe abriu muitas portas profissionais?

ADELE: Olha, eu vim pra Mocidade já conhecida. Eu fui a única brasileira “bond girl”, que filmou com James Bond aqui no Brasil, eu fui convidada para representar a beleza da mulher brasileira. Assinei na história do 007!  Fiz também um filme chamado “Histórias que nossas babás não contavam” que é uma sátira da história da Branca de Neve e os sete anões. Eu até ganhei prêmios de musa do cinema brasileiro por causa desse filme. Eu já vim pra Mocidade famosa, já tinha feito comercial pra TV, era a primeira mulata do Sargentelli. Então eu já tinha uma carreira, eu não vim pra Mocidade buscando nada. Eu vim pra me doar e receber carinho, pra ajudar.


BLOG: Você é conhecida internacionalmente pelo seu trabalho, divulgando e representando o Carnaval. Fale um pouquinho disso para nossos leitores.

ADELE: No Japão eu sou café-com-leite em latinha e aguardente também. Na Itália eu sou óleo de bronzear. Já sai em capas de revistas no exterior, sempre exaltando nosso carnaval, colocando o carnaval para o mundo. Agora fui convidada, pelo Claudio Penido, para representar o Brasil na Suíça Francesa, sou a madrinha do carnaval de Lausanne no carnaval de 2016. Me sinto uma representante do Carnaval pelo mundo.


"Estou aqui de braços abertos pro que der e vier". 
(Adele Fátima)    


BLOG: Deixe, por favor, uma mensagem para nossos queridos independentes.

ADELE: Olha, para vocês que adoram a Mocidade igual a mim, que estão aqui, que estão fora do pais, pois são muitos fora do Brasil apaixonados por essa Estrela, um super beijo pra todos, acreditem em Deus em primeiro lugar. As coisas acontecem, elas se encaixam... Fui recebida de uma forma tão majestosa na quadra. É tão difícil acontecer isso em Escola de Samba hoje em dia né? O reconhecimento. É que todo sambista merece e hoje (07/11/2015) eu tive isso. Eu só posso agradecer a todos os Independentes.





BLOG: Pra finalizar, em relação ao Carnaval de 2016. Contaremos com você em nosso desfile?


ADELE: Olha me convidaram para voltar e o bom filho a casa torna. E o samba diz “verás que um filho teu não foge a luta”. Estou aqui de braços abertos pro que der e vier.    



Direção de Carnaval e Harmonia
Departamento de Comunicação


SÉRIE BEM ESTAR: Fobia Social, Fobia Específica e Transtorno de pânico.

       Hoje no nosso blog iremos abordar três temas subjetivos, são eles: Fobia Social, Fobia Específica e transtorno de pânico. Sabemos que os transtornos comportamentais atinge desde a idade infantil até a idade adulta. Vejam alguns exemplos a seguir.



Fobia Específica
    A fobia específica é outro transtorno ansioso e é caracterizado por um medo persistente e exagerado na presença ou antecipação de situações ou objetos específicos como animais, insetos, sangue, altura, ligares fechados, voar de avião, dentre outros.

      A exposição da criança, adolescente ou adulto à situação temida (estimulação fóbica) é capaz de desencadear resposta ansiosa imediata. Essa resposta está freqüentemente associada a sintomas somáticos como nervosismo, choro, ataques de pânico e irritabilidade

      O comportamento evitativo e a ansiedade antecipatória causadas pelo medo de enfrentar situações temidas interferem significativamente na rotina acadêmica, ocupacional e nas relações da pessoa com sua família e seus amigos.


Transtorno de Pânico
      O transtorno de pânico é caracterizado por ataques de pânico recorrentes e inesperados, que são períodos de intenso medo ou desconforto acompanhado de sintomas somáticos, como palpitações, sudorese, falta de ar, tremores das mãos, dores no peito e na barriga, medo de enlouquecer ou de morrer. Esses sintomas duram cerca de dez a trinta minutos e não há risco de vida (é o “ataque de pânico”). Outra característica que pode acompanhar o transtorno de pânico é a presença ou não de agorafobia, que é a ansiedade ou medo de estar em lugares abertos ou cheios de gente. A pessoa tem medo de vir a passar mal e não ter ninguém para socorrê-lo e apresentar um comportamento evitativo dessas situações, por exemplo.



      Estudos demonstram que muitos adultos com esse transtorno apresentam seus primeiros ataques de pânico ainda na infância ou adolescência. Nesses casos o diagnóstico ainda na infância poderia ter proporcionado um tratamento precoce com melhores resultados prognósticos e com melhor qualidade de vida a essas pessoas.


Fobia Social
      A fobia social ou timidez patológica é uma condição comportamental em que a pessoa apresenta medo, ansiedade e grande timidez ao se expor em situações sociais.

    Crianças, adolescentes e adultos com o quadro de fobia social apresentam comportamento evitativo, dificilmente pedem ajuda aos pais e especialistas quando apresentam dúvidas, negam-se a participar de atividades em grupo, não participam de trabalhos, ou atividades esportivas e evitam comparecer a festas de aniversário ou eventos. Essas pessoas comumente evitam e relutam a conversar com outras pessoas, principalmente do sexo oposto.



      A pessoa apresenta medo de ser avaliada, julgada ou ridicularizada por outras pessoas, de se tornar o centro das atenções e de acabar sendo considerada estranha, esquisita, pouco atrativa ou estúpida, por exemplo. Há o medo de que em algum momento possa agir ou dizer algo embaraçoso. Logo evita falar em público, dialogar com figuras de autoridade, como professores, pais e especialistas ou com pessoas estranhas. Podem também apresentar dificuldade de comer ou escrever na frente de outras pessoas ou utilizar banheiros públicos.

     Além desses sintomas, crianças e adolescentes com fobia social apresentam manifestações somáticas quando expostas às situações sociais como rubor facial, sudorese, tremor, coração acelerado e nervosismo.



 Pedagoga e Psicopedagoga, Késsia Sampaio. 

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

DNA DO SAMBA: O JONGO


                O jongo é uma dança de origem africana, embalada por sons de pontos, praticada com o toque de viola, pandeiros e tambores, tradicionalmente o caxambu, o candongueiro e o ngoma-puíta (similar a cuíca). Fato comum, reconhece-se o jongo como sendo o avô do samba. Os atores desta manifestação artística-cultural são conhecidos como jongueiros.

                É certo que o jongo chegou ao Brasil com os negros oriundos da África para serem escravizados aqui, que trouxeram consigo as danças de umbigada. Muitos atribuem a sua origem específica à Angola devido à forte proximidade com o semba ou masemba, típicos do país-irmão africano.



Chegando aqui, rapidamente se alastrou pelas zonas rurais das lavouras de cana-de-açúcar e café, sobretudo no Vale do Paraíba e nas regiões de Minas Gerais, onde até hoje se encontram influentes representantes desta arte nos quilombos.

No Rio de Janeiro, os bairros de Madureira e Oswaldo Cruz centralizaram a prática desta manifestação cultural, desde a abolição da escravatura. Os primeiros percussores foram Maria Teresa dos Santos, ex-escrava, Mano Elói, Sebastião Mulequinho e Tia Eulália, todos ligados à fundação de nossa coirmã G.R.E.S. Império Serrano no morro da Serrinha, o que comprova a relação hierárquica entre o jongo e o samba do morro, que mais tarde viria a descer para o asfalto e tomar as proporções que tomou em nossa cultura.

Dos mais emblemáticos atualmente, o Jongo da Serrinha foi criado pelo Mestre Darcy Monteiro e pela Vovó Maria Joana Rezadeira, discípula de Maria Teresa dos Santos e tornou-se um grande expoente do jongo em nossa cultura, divulgando e mantendo suas tradições, tendo inclusive registrado este junto ao IPHAN como o primeiro Bem Imaterial do Estado do Rio de Janeiro.

Graças a pessoas que perpetuam nossas tradições e nos fazem lembrar de nossas origens, quem desejar se aproximar ainda mais do universo do samba, ou mesmo conhecer suas origens pode buscar os quilombos e grupos culturais de jongo ou comparecer às quintas-feiras embaixo do Viaduto Negrão de Lima, em Madureira, para assistir às apresentações de jongo que acontecem por lá. Sem mencionar no Jongo da Sociedade Secreta, praticado somente no dia de Santa Ana, 26 de julho, e somente em local a ele destinado.


Neste dia 20 de novembro, reservado para a memória da consciência negra, nada melhor do que exaltar nossas raízes, trazidas por nossos irmãos africanos e que, graças a eles, temos tudo aquilo por que somos apaixonados hoje em nossa cultura. O mundo se moderniza, o tempo passa, traçamos novos destinos a alcançar...mas não podemos nunca esquecer de onde viemos.


Salve o jongo! Salve o samba!


Departamento de Comunicação
Direção de Carnaval e Harmonia


sábado, 14 de novembro de 2015

ESPECIAL 60 ANOS DA MOCIDADE: Criador e criaturas: A era Renato Lage




Um feto dentro do globo terrestre, um menino jogando videogame, um sol reluzente em três dimensões, um pierrô: algumas criaturas.
Um Renato. Lage: o criador.




     A história do carnavalesco Renato Lage no Carnaval não começa na Mocidade. Vem de antes, muito antes. Contudo, sua ascensão ao primeiro time de carnavalescos e sua marca surge quando ele assume o projeto artístico da agremiação de Padre Miguel para o carnaval de 1990. Na época, a Mocidade buscava um carnavalesco capaz de dar continuidade ao excelente trabalho do gênio Fernando Pinto, que deixou a escola e saudades quando veio a falecer.  A missão parecia difícil, pois com a perda de Fernando, os resultados dos dois últimos carnavais não foram os esperados e ocorreu troca-troca de carnavalescos.

     O retorno do patrono  Castor de Andrade, após dois anos de afastamento, injeta novo fôlego e um ousado plano de reformulação da escola. Com sua postura visionária, Castor aposta no talento de Lage, que já vinha realizando belos desfiles em outras agremiações nos anos anteriores e o convida, juntamente com sua então esposa, Lilian Rabelo, para desenvolver um enredo sobre a virada da década. Toda a expectativa e o ótimo ambiente criado com as novidades fizeram com que o tema mudasse de foco e se tornasse um enredo sobre a virada da própria Mocidade. Eis que surge então, “Vira, virou a Mocidade chegou”.

      O estilo high-tech do carnavalesco já começou a encantar o público, crítica e julgadores em seu primeiro desfile pela Mocidade, que foi marcado pelo uso de efeitos especiais, especialmente o neon, usado em diversos carros que estão até hoje na memória do torcedor da verde e branco de Padre Miguel. A comunicação com o público, facilitada por um dos sambas mais populares da escola e somada ao emocionante retorno do patrono Castor de Andrade à avenida, que estava feliz como nunca e mostrava a simpatia e o carisma de sempre, fizeram com que a estreia de Renato Lage na Mocidade fosse um enorme sucesso, já resultando em um título. Sim! A Mocidade voltava a ser a campeã do Carnaval, depois do apoteótico desfile de 1985, e melhor, com outro desfile apoteótico.  



   


  Embalado pelo resultado, o casal de carnavalescos permanece na escola para lutar pelo bicampeonato no próximo ano. Prestigiado pelo campeonato do ano anterior, Renato escolhe falar de um dos quatro elementos da natureza, a água. Surge então mais um fantástico enredo autoral que rende mais um samba que vai marcar a história da escola para sempre: “Chuê... Chuá... As águas vão rolar”. Renato volta a apostar em um desfile moderno, abusando dos efeitos. A abertura já é apoteótica, a Estrela, símbolo da agremiação, vem estilizada de estrela-do-mar, totalmente integrada ao enredo. Para arrebatar de vez público e julgadores, o carro que representa a vida, com um feto imerso no globo terrestre fez explodir nas arquibancadas o grito de “bicampeã”. Como a voz do povo é a voz de Deus, na quarta-feira de cinzas o júri confirmou a vontade do público presente no sambódromo e a Mocidade conquistou seu primeiro e único bicampeonato.  

       Como "Sonhar não custa nada... ou quase nada", a escola apostou no mesmo time e veio com tudo na luta pelo tricampeonato em 1992. O enredo sobre os sonhos, autoral e genial, rendeu um dos sambas mais belos da agremiação e possivelmente o mais famoso e cantado da escola em seus 60 anos de existência. Luxo, riqueza e criatividade marcaram o desfile, que foi vice-campeão. O sonho do tricampeonato foi, momentaneamente, adiado... Mas o desfile se tornou inesquecível.

       Lage e Mocidade continuaram a disputar o campeonato nos anos seguintes. Destaque para os anos de 1993 falando sobre os jogos e de 1995 com um enredo sobre religião e fé, quando a escola obteve dois quartos lugares e retornou para o sábado das campeãs.




     Ao desenvolver o enredo de 1995 que falava, de certo modo, sobre o criador, Renato tem a ideia de fazer um paralelo entre criador e criatura no ano seguinte e então surge o enredo “Criador e criatura”. O carnavalesco volta a abusar do estilo que o consagrou, com luzes, efeitos e muito neon. Esse estilo, paralelo ao bom gosto, traços modernos e muita criatividade colocavam a Mocidade novamente como uma das principais favoritas ao título. Entretanto, o carnaval de 1996 ainda reservava muitas emoções... Nos momentos anteriores ao desfile, o clima era de tensão. Problemas na dispersão de outras escolas fizeram com que a Mocidade, que havia programado um desfile para a noite, tivesse que  iniciar seu desfile com o dia já amanhecendo. Com isso, a maior parte dos efeitos de luz, projetados para a noite, se perderam. Com muita garra a comunidade da escola não deixou se abater e com um desfile perfeito, destacado pelo canto forte e por várias criações fantásticas do criador Lage, como a comissão de frente de Frankenstein, o abre-alas representando Deus (ou melhor, suas mãos) criando o Universo e construindo o Planeta Terra e iniciando, obviamente, pelo Brasil, o grande aquário de placas de acrílico do carro “elementos da natureza”, assim com o carro de Adão e Eva com a enorme serpente do Éden, que deu aos seus intérpretes, além de maior projeção a suas carreiras, os títulos de muso e musa do Carnaval 1996. Com tudo isso e muito mais, não havia possibilidade de um resultado diferente de mais um título para Padre Miguel e Renato Lage. Era o terceiro em sete anos de casamento entre Mocidade e Renato Lage.



 
    Inflamado pelo campeonato, Lage fez uma espécie de continuação do enredo anterior, destacando a “criatura”, o enredo sobre o corpo humano batizado de “De corpo e alma na avenida”, novamente original, é inspirado no filme “viagem insólita” e gera mais um grande samba da ala de compositores da Estrela Guia, inclusive premiado com o Estandarte de Ouro naquele ano. O desfile, como já era rotineiro, é arrebatador e a Mocidade perde o bicampeonato por apenas meio ponto de diferença para a campeã daquele ano. Porém, imagens como o carro do coração todo em néon, ou o alegre carro da digestão representado por um grande banquete, ficarão para sempre na memória dos apaixonados por carnaval.


        O vice-campeonato de 1997 foi um duro golpe. Mas golpe maior ainda estava por vir. Nesse mesmo ano, a Mocidade Independente de Padre Miguel perde seu eterno patrono, Castor de Andrade, e Renato aproveita o enredo escolhido para 1998, “Brilha no céu a estrela que me faz sonhar”, sobre os astros e sua influência em nossas vidas para prestar uma linda homenagem ao nosso patrono no fim do desfile.



      No ano seguinte, 1999, Renato se desprende do seu consagrado seu estilo “high tech” e prepara um carnaval que ele mesmo define como “sem neon”. A curiosidade foi imediata no mundo do samba e todos queriam ver como Renato e a Mocidade passariam pela avenida apostando em um estilo diferente. “Villa-lobos e a apoteose brasileira” brindou os desfiles do sambódromo com um visual e escala cromática belíssima. A abertura com os sapos-cururus evoluindo, e as primeiras alas, findando com nossas baianas, a frente do gigantesco e imponente abre-alas, representando a floresta, mostrava que a Mocidade vinha forte. O desfile ainda brindou o público com o carro que é considerado, por muitos, como a alegoria mais bela de todos os tempos do carnaval, o carro “sôdade do cordão” ou como é intimamente chamado, “o carro do pierrô da gola feita com copinhos de plástico descartável”. Esse carro é a prova viva que o púbico entende de carnaval, pós tão logo ele adentrou a avenida, explodiu nas arquibancadas o grito de “é campeã”. Infelizmente, o campeonato não veio, e a escola terminou a apuração na quarta colocação. Porém, o sucesso do trabalho da escola e do carnavalesco é inquestionável, sendo esse desfile exaltado e lembrado até hoje.


          Renato permaneceu na escola por mais três carnavais, com destaque para o desfile de 2002, seu último ano na Mocidade, em que trouxe a magia do mundo do circo para Sapucaí. “O grande circo místico” levou para a avenida alegorias criativas e fantasias belas, seu estilo moderno predominou e o resultado foi mais uma quarta posição (a quinta do carnavalesco durante o tempo que permaneceu na agremiação), finalizando sua passagem pela escola da forma  que chegou, com brilho, requinte e genialidade.



        No total foram, até hoje, treze anos de Renato Lage na Mocidade, alguns solo, alguns com sua ex-esposa Lilian, e os últimos com sua atual esposa Marcia Lavia. Os principais resultados no papel foram 3 títulos, 2 vices e 5 quartos lugares, porém o resultado maior foi entrar para galeria dos maiores carnavalescos de todos os tempos, com criações inesquecíveis que marcaram e marcarão a história do carnaval carioca. E, mais precisamente, falando em Mocidade Independente de Padre Miguel, Renato Lage escreveu seu nome ao lado de Arlindo Rodrigues e Fernando Pinto, cada um em seu tempo e com seu estilo, como os grandes carnavalescos da história da escola verde e branco, como profissionais que, muito mais que títulos, deram identidade e notoriedade para a Estrela Guia de Padre Miguel.       

Comissão de Comunicação – Departamento de Harmonia
Direção de Carnaval e Harmonia


sexta-feira, 13 de novembro de 2015

ESPECIAL 60 ANOS DA MOCIDADE: Maravilha de Tropicália



Com a saída de Arlindo Rodrigues, a Mocidade precisava de uma revolução no seu estilo de fazer Carnaval. E ela veio logo em 1980, com o genial Fernando Pinto.

 Revolucionário e de temperamento forte, o recifense Fernando chegou à Mocidade Independente mostrando a que veio, lançando um novo conceito de Carnaval. Nossa escola passou a apresentar, sob sua direção artística, um viés tropicalista, futurista, ousado. A era Fernando Pinto representa a definição da Mocidade como escola de vanguarda, inovadora.


Logo em 1980, seu primeiro ano como carnavalesco da Estrela Guia, Fernando nos presenteou com uma Tropicália Maravilha. Numa explosão de cores, misturando nossa fauna e nossa flora, a Mocidade apresentou um desfile altíssimo nível, com um samba memorável, de autoria de Djalma Santos, Arsenio e Domenil. Os independentes foram apresentados, pela primeira vez, a uma estética vanguardista, que se tornaria nossa marca.


Mocidade 1980.
 Distante da Verde e Branco em 1981 e 1982, Fernando Pinto retorna em 1983, com o enredo Como Era Verde o Meu Xingu, uma das mais impactantes mensagens já passadas no Carnaval. Fenando Pinto, mais uma vez, mostra ter o pensamento a frente de seu tempo, trazendo em seu desfile, uma preocupação e o apoio aos nossos índios, verdadeiros dono dessa terra, e à natureza, tão explorada pelo progresso. O samba-enredo, de autoria do quarteto Dico da Viola, Paulinho Mocidade, Tiãozinho da Mocidade e Adil, é um dos mais lembrados pelos sambistas, sejam independentes ou não. Uma obra prima, capaz de emocionar o mais duro dos corações.
                


               
Monique Evans e Adele Fátima 1984.
Continuando com sua veia tropicalista, em 1984, o enredo Mamãe Eu Quero Manaus, já na Sapucaí que conhecemos hoje, deu o cartão de visitas da Mocidade para a nova era do Caranval. Fernando continuou encantando e mostrando sua genialidade. Com um belíssimo desfile, evidenciando o estilo tropicalista e embalado pelo grande samba composto  por Edson Show e Romildo,conquistamos um 3º lugar no supercampeonato, abaixo apenas das campeãs Mangueira, a supercampeã do ano, e Portela. Um  resultado significativo, de uma escola que alçou seu lugar entre as grandes e demonstrava, todos os anos, que esse era seu lugar.




Castor de Andrade - Mocidade 1985.
                Fernando Pinto era um carnavalesco que enxergava além dos ateliês, das máquinas e dos materiais. Seu diferencial era buscar mexer com as emoções da plateia, seja ela a especializada ou a torcida. Não havia uma fantasia ou alegoria que não fosse criada e pensada com o objetivo de causar no público algo diferente, que o tirasse do lugar comum. Em 1985, a busca pelo êxtase nos trouxe o mais incrível de nossos títulos. O enredo Ziriguidum 2001 – Um Carnaval Nas Estrelas levou de fato a Sapucaí ao céu. A Mocidade foi a pioneira, ergueu sua bandeira na imaginação de cada pessoa que assistiu a um dos mais perfeitos desfiles apresentados por uma Escola de Samba. A nave-mãe verde e branco partiu, levando todas as manifestações para o nossa Galáxia. Fernando Pinto, no auge da sua genialidade, emocionou, inovou, fez sorrir, fez chorar, prendeu a atenção de todos àquela Estrela Guia que brilhou no Céu. O Espaço Sideral festejou, o Universo inteiro devaneou. Padre Miguel vibrou, pois, afinal de contas, era seu o Carnaval. O grito de bicampeã ecoou, nos versos escritos à luz do luar, por Gibi, Tiãozinho e Arsênio. Indiscutível. Entrou para a história, de Fernado Pinto, da Mocidade.

Mocidade 1985

               
Mocidade 1987.
 
Após tentar carreira solo como cantor em 1986, o carnavalesco retornou à sua casa. Como o último brilho da lâmpada, aquele mais forte, Fernando lançou o enredo Tupinicópolis, em 1987. Um dos maiores desfiles de todos os tempos, cosiderado por muitos o maior da Mocidade. A incrível mistura da civilização indígena com o futuro fez o mundo inteiro viajar na loucura tropicalista do nosso grande artista. A representação de sua veia artística ficou evidente em um desfile que, contrariando e fundindo a mente de muitos, trazia lado a lado a forma simples  de vida dos nossos indígenas e uma metrópole super desenvolvida. Arretado! Magnífico! Genial! Pode-se dizer que Fernando Pinto se traduz em Tupinicópolis e Tupinicópolis se confunde com Fernando Pinto. Como se o artista virasse ideia e se materializasse na Sapucaí. Emocionante, ainda mais com o samba-enredo emplacado por Gibi, Chico Cabeleira, Nino Batera e J. Muinhos. Conquistamos o vice-campeonato, mas o coração dos independentes sabe que nosso desfile de 1987 é maior do que qualquer avaliação que possa existir.


                Ainda em 1987, quando preparava o desfile de 1988, com o enredo Beijim, Beijim, Bye-Bye Brasil, Fernando Pinto nos disse adeus. Um triste acidente de carro nos tirou o carnavalesco que é um dos maiores ícones artísticos da maior festa do mundo, a nossa festa profana. Porém, seu legado nunca mais foi deixado de lado. A Mocidade se tornou, para sempre, uma escola de vanguarda, o ponto fora da curva. E tudo isso graças ao artista que nos trouxe a Maravilha da Tropicália.

Outras fotografias:









Comissão de Comunicação – Departamento de Harmonia

Direção de Carnaval e Harmonia

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